Que pedalar faz bem à saúde, todo mundo já está cansado de saber. Que bicicleta é o meio de transporte mais limpo que há, também. Mas, certamente, poucos atentaram para o fato que as nossas queridas bikes podem ser fundamentais para o equilíbrio do clima do planeta.
Como?
Substituindo seu carro ou qualquer outro meio de transporte motorizado por sua magrela. Sim, mas e daí? Bem, para começar, certamente você vem sendo bombardeado pela mídia sobre o mais grave problema ambiental do nosso planeta: o aquecimento global. Especialmente depois do lançamento de um importante relatório elaborado por milhares de cientistas que afirma categoricamente que as atividades humanas estão alterando o clima do planeta, deixando-o mais quente e instável.
As previsões são de aumentos na temperatura média da atmosfera de até 4 oC nos próximos 100 anos. Parece pouco, mas este aumento será suficiente para derreter as calotas de gelo polar, aumentar a intensidade de furacões e tempestades, o que já está acontecendo, e aumentar o nível do mar, inundando as cidades costeiras. Isso tudo porque estamos cada vez mais emitindo poluentes para atmosfera, os tais gases de efeito estufa, que fazem com que mais e mais calor fique aprisionado na atmosfera terrestre.
Além do desmatamento de nossas florestas, um dos setores que mais emite gases de efeito estufa no Brasil é o setor de transporte. Cada vez que usamos nosso carro ou moto, o resultado é mais emissões de gases de efeito estufa, em particular, o gás carbônico.
E é ai que entra a sua bike.
Por ser um meio de transporte que não polui, ou melhor, que não lança nenhum gás de efeito estufa, o seu uso freqüente, em substituição a um veículo motorizado e poluidor, é extremamente benéfico para o clima do planeta.
E o tamanho deste benefício pode ser facilmente calculado. Suponha que você tenha um carro relativamente novo (no máximo com 5 anos de uso e 1.0 ou 1.4) e que você, diariamente, rode com ele cerca de 50 km (relativamente pouco para quem mora em uma cidade como Brasília). Por ano, seu carro emitirá quase 4 toneladas de gás carbônico.
Se você usasse uma bike a e não o carro, a emissão seria zero.
É claro que esta substituição total do carro pela bike não é tão fácil de se fazer. A falta de ciclovias, segurança para os ciclistas e muitas vezes grandes distâncias a serem percorridas, além do corre corre diário, nos fazem pensar duas vezes antes de usarmos nossas pernas.
No entanto, isto não quer dizer que o argumento do transporte limpo vá por água a baixo devido às exigências da vida moderna. Fazendo um cálculo bastante geral, imagine, tomando o caso de Brasília novamente, que cada veículo que roda na capital do país, emita o mesmo que seu carro por ano. A emissão de gás carbônico atingiria a cifra de 2.8 milhões de toneladas anuais, já que a frota atual da cidade é de mais ou menos 700 mil veículos. Isto seria o equivalente a derrubada e a queima de quase 10.000 campos de futebol de florestas na Amazônia.
Pois bem, se assumíssemos que destes milhares de motoristas, uma parte (digamos 20%) passasse a utilizar suas bicicletas pelo menos, dois dias na semana, a redução na emissão de gás carbônico na cidade seria de 20 mil toneladas por ano. Parece pouco, mas imagine se multiplicássemos esta redução pela frota de carros do Brasil. Ela seria considerável, não?
No caso da recente competição realizada em Brasília, o AUDAX, uma prova onde os ciclistas percorreram 200 km, teve emissão zero de gases que aquecem a atmosfera. Se este evento, contudo, fosse feito de carro ou de moto, cada participante no final do percurso teria emitido cerca de 40 kg de gás carbônico. Cada participante teria que plantar pelo menos uma árvore para anular os efeitos das emissões que provocaria.
Estes cálculos todos servem não somente para dar mais brilho às nossas amadas bikes, mas também para conscientizar a sociedade e os governos do valor que elas têm para o meio ambiente. Se o ciclismo recebesse mais apoio para divulgação e investimentos em infra-estrutura (ciclovias), a redução da emissão de poluentes que aquecem a terra seria ainda maior.
Os benefícios, neste caso, não seriam somente para os ciclistas, mas para a sociedade brasileira e, quem diria, para a sociedade global.
Paulo Moutinho
Autor
Doutor em Ecologia, Diretor Científico do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia/Sucursal Brasília. www.ipam.org.br, Membro do grupo de MTB “Rebas do Cerrado”.